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  • Foto do escritorAdnan Brentan

Qual é o tamanho do seu mundo?


Existem mundos de todos os tamanhos. Existem pessoas que enxergam o mundo como imenso, quase sem fim. Existem pessoas que basicamente vivem dentro de suas casas, evitando o contato com o mundo exterior. As primeiras possuem atração irresistível pela aventura, para a exploração. Já os outros só conseguem se sentir seguros, quando muito, dentro das paredes das próprias casas.


Então, repito a pergunta: Qual é o tamanho do seu mundo?


Como surgiu a ideia para refletir sobre este assunto?

Como surgem todas as ideias e temas relevantes, começou com a necessidade de entender algo que acontece em nossa vida e nos impacta de alguma forma. Eu e minha esposa já estamos na "meia idade", e consequentemente nossos pais já estão bem mais avançados na vida. Em nossas conversas, eu e minha amada, com frequência surge a preocupação com o bem e estar e saúde de nossos queridos e amados "velhos". Percebemos que conforme eles avançam em idade vão perdendo a energia, vão tendo mais dificuldades físicas para se manterem em movimento. Embora em grau distinto em cada um, um dos sintomas mais evidentes é a falta de disposição para ir "para fora".

Alguns deles na sua juventude e plenitude conseguiam se afastar, e ficar um bom tempo, a milhares de quilômetros de distância de seus lares. Também optaram, em algumas fases, por mudar o próprio lar de cidade, estado e até país. As distâncias não os intimidavam, de verdade, pelo contrário, estas mudanças eram encaradas como grandes aventuras que os motivavam e lhes traziam satisfação. Estes desafios eram combustível para felicidade e crescimento pessoal. Mas a realidade é que paulatinamente o ímpeto e, talvez, a coragem vão reduzindo em potência e ocorrência.


Talvez seja natural, afinal nosso mundo começa muito bem delimitado no ventre de nossas mães e sair da paz, tranquilidade e proteção deste mundo, dizem, é muito doloroso. Depois vem o berço, depois do berço vem a casa, depois da casa o nosso bairro (e a escola). Em algum momento começamos a nos movimentar com autonomia e liberdade pela nossa cidade. De repente estamos realizando nossas viagens já longe dos olhares e proteção direta dos nossos pais. Alguns tomam gosto por esta liberdade de poder se transportar fisicamente para diferentes regiões, diferentes culturas, diferentes idiomas. Conhecem lugares e estabelecem laços com várias pessoas. Ganham o mundo através deste espírito de aventura. O seu mundo fica muito grande, quase infinito.


"Não acredito na existência de um talento específico para viajar. As pessoas que, nas viagens, se familiarizam, rápida e amorosamente, com o meio estranho e de percepção inata para as coisas verdadeiras e valiosas, são as mesmas que já descobriram o sentido da vida em si e que sabem seguir a sua boa estrela. Uma vívida saudade das fontes da vida, um anelo de sentir-se amigo e uno com tudo que vive, cria e cresce, é a chave que abre os segredos do Mundo, e a que se procura obedecer, não apenas nas viagens distantes, mas também no ritmo da vida e a experiência diárias." Herman Hesse


Mas, com a mesma naturalidade, distraidamente, junto com o vigor e curiosidade decadentes, vamos encolhendo também as nossas fronteiras pessoais. Começa a ficar difícil tomar aquele avião, percorrer aquela distância mais longa em um carro ou ônibus, até nos cansa caminhar até a padaria. Cansamos até de pensar! O cansaço começa a tomar uma forma de insegurança, ficamos apreensivos por realizar grandes jornadas e depois até as pequenas, que antes nos motivavam e nos traziam satisfação e alegria. O medo, que sempre esteve presente, mas, não nos impedia de realizar as coisas, agora é um "valor" dominante e a maioria das decisões (ou indecisões) são balizadas por ele. De jovens aventureiros corajosos nos permitimos transformar em "velhos" acomodados e medrosos. Personalidades antes brilhantes e nutridoras agora são sujeitos opacos e carentes. Antes nossas fronteiras eram o mundo, em algum momento se tornam nossa cidade, depois nosso bairro, depois nosso condomínio, depois nosso apartamento ou casa e finalmente se torna nosso leito. Nosso corpo sempre a colapsar e nosso mundo a encolher.


É como se a vida fosse uma longa e profunda respiração. Primeiro, ao mesmo tempo que expandimos nossas fronteiras, inspiramos o mundo, nos inflamos de vida, de diversidade. Depois, vamos restringindo nossos movimentos, vamos murchando a vida, vamos nos tornando monotemáticos.


Uma parte mais sóbria e "conservadora" do meu ser vai afirmar que este é um processo natural e inevitável. Será?


Outra parte mais alegre e "aberta" do meu ser vai afirmar que não é bem assim. Não é!


Muito do que perdemos em relação a saúde, mobilidade e plasticidade está diretamente relacionado com o uso e o cuidado com nosso corpo físico e, principalmente, com a nossa mente e ideias. Modernamente já é fato, mais do que comprovado, que o que ingerimos (alimentação) e como usamos nossos corpos (exercícios/treinamento) pode retardar e até recuperar a saúde e mobilidade. Nosso corpo é um equipamento incrível: Se nós o usamos, nós o ganhamos! Se nós não o usamos, nós o perdemos!

E como funciona a nossa mente? Da mesma forma: Para mantê-la forte é preciso nutri-la e para mantê-la afiada é preciso usá-la e estimulá-la!

Na nutrição da mente é fundamental consumir boas ideias, consumir bons sentimentos. Mas, assim como com o corpo físico, não basta ingerir bons alimentos, é fundamental restringir a dieta de alimentos pobres e nocivos (superprocessados e inflamatórios), também é assim com a nossa mente, precisamos deixar de consumir lixo psicológico para mantê-la mais limpa. Uma mente mais limpa é essencial para uma vida feliz e significativa.


Como também é fundamental uma conexão com algo superior:

"A dimensão espiritual é o seu centro, seu íntimo, seu comprometimento com o sistema de valores. Trata-se de uma área muito pessoal da vida, de importância suprema. Ela se nutre das fontes que o inspiram e elevam, vinculando-o às verdades eternas de toda a humanidade. Cada pessoa faz isso de forma muito, muito diferente. Eu encontro consolo e renovação nas orações meditativas das sagradas escrituras, porque elas refletem o meu sistema de valores. Conforme leio e medito, eu me sinto renovado, equilibrado e pronto para ajudar os outros. A imersão na literatura ou na música de qualidade pode renovar os espíritos de algumas pessoas. Outros conseguem isso na comunhão com a natureza. A natureza abençoa aqueles que se comunicam com ela. Quando você consegue deixar para trás o barulho e a agitação da cidade grande e se entregar à harmonia e ao ritmo da natureza, volta renovado. Durante algum tempo, não se perturba, não se abala, até que gradualmente o barulho e a tensão externa começam a invadir aquela sensação de paz interior."

Stephen R. Covey


Tenho conhecido muitos velhos de vinte e poucos anos e tenho convivido com muitos jovens com mais de 60 anos. Por isso posso afirmar:

É possível morrer jovem o mais tarde possível!


O físico conta? Claro que conta bastante. Mas o espírito e a mentalidade são muito mais importantes para manter a juventude até o fim da vida.


"Cidadãos! Este é o exemplo que os velhos dão aos moços. Nós - hesitamos, ele veio! Nós recuamos, ele avançou! Eis o que os que tremem de velhice ensinam aos que tremem de medo! Este ancião é augusto diante da pátria. Teve vida longa e morte magnifica!"

Victor Hugo - Os Miseráveis


Mario depois de subir o Mãe Catira em 05/06/2016

Impossível ao escrever esta reflexão não lembrar do querido Mario Nakatani. Em maio de 2016 um idoso de 69 anos me procurou para subir a primeira montanha. Eu até tentei dissuadi-lo da ideia, mas ele insistiu e subiu a tal montanha comigo (Mãe Catira). Teve bastante dificuldade para subir devido ao problema crônico de asma. Lembro que estava frio e começou a chover já perto do cume. Na descida escorregou e rolou no barro algumas vezes. Pensei comigo: Esse nunca volta...

Mas ele voltou e voltou sempre. Nos anos sucedâneos realizou muitas trilhas e viagens, subiu muitas montanhas. Durante um tempo foi o meu clienteamigo mais frequente e não foi só comigo, ele fazia trilhas e viagens em quase todas as semanas. Como era a sua personalidade e disposição? Sempre bem humorado, sempre bem disposto, embora sempre cansado como ele gostava de brincar, mas sempre conquistando montanhas e, principalmente, conquistando admiradores e amigos, pois era ótimo de papo e sempre estava ajudando e motivando aos demais na trilha (e fora dela).

5 anos e 4 meses depois, na véspera de completar 75 anos, um infarto fulminante o retirou deste mundo já bastante adiantado em idade, mas ainda muito jovem.

O seu mundo era imenso!


Repito novamente a pergunta:

Qual é o tamanho do seu mundo?


P.S.: Angela, como você sugeriu, escrevi sobre o assunto, mas não consigo fazê-lo "curtinho". Haha! Aliás, como as pessoas estão preguiçosas para ler. Às vezes passam horas rolando o feed nas redes sociais, mas não conseguem ter atenção suficiente para ler algo significativo por mais de 3 minutos.


"Descobri que fazer uma viagem especial é a opção prioritária de todos a quem perguntei qual era a expectativa que lhes transmitia mais energia emocional. Quando você dá a si mesmo algo especial para desejar, livra-se do fardo de se sentir amarrado à rotina. Para de achar que sua vida é uma esteira rolante à qual está preso. Todos que anseiam por algo maravilhoso se sentem mais leves e livres."

Mira Kirshenbaum - Energia Emocional


Abaixo o Mario em setembro de 2019 descendo a tirolesa em Ribeirão Claro





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