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  • Foto do escritorAdnan Brentan

O que eu ganho fazendo trilhas?

"Somos guiados internamente para a missão que nós podemos cumprir, sabendo que é de suprema importância seguir essa missão para nos sentirmos felizes e completos."

James Redfield


Dia após dia eu volto a buscar respostas sobre a utilidade do trabalho que realizo, do serviço que presto ao público.

Afinal o que eu estou fazendo?

Qual tem sido a minha contribuição?

Estou fazendo alguma diferença real no mundo ou na vida das pessoas?

E o mais importante: Esta diferença é algo bom que ajude a melhorar o mundo e a vida das pessoas?


Seguidamente a resposta é:

Sim, estou realizando algo bom!

Sim, estou fazendo a diferença na vida das pessoas!


Mas nem sempre há uma clareza de entendimento que avalie a amplitude do impacto causado pelas oportunidades que proporciono com meu trabalho.

Colocar as pessoas em contato com os ambientes naturais tem um benefício estético inegável. Contemplar a beleza de alguma forma nos torna mais serenos.

Em nossa constituição mais primitiva fomos criados e aperfeiçoados para viver nestes ambientes, pois nosso DNA não mudou desde que deixamos os campos e florestas. Como espécie, embora pareçamos totalmente adaptados, temos muito menos tempo de história na vida urbana do que em nossa primitiva vida mais ou menos selvagem. Talvez daí resulte o bem estar inequívoco que sentimos em meio a Natureza.

Outro benefício, quase tão significativo quanto os anteriores, é podermos usar nosso corpo de maneira muito mais dinâmica do que no nosso cotidiano. Apesar de termos nos tornado uma espécie sedentária, vivemos um período infinitamente maior de nossa história usando nosso corpo físico e nossos instintos de maneira muito mais ampla e constante. E provavelmente ao colocarmos nosso corpo neste padrão de utilização mais plena nos ative faculdades adormecidas que nos resultam em mais bem estar e, com certeza, mais saúde física, emocional e mental.


Mas hoje não quero falar de bem estar e sim do "mal estar" e o quanto ele pode ser decisivo e até mais importante nas experiências que realizamos na natureza.

Não é tão fácil e agradável falar sobre isso, pois, num primeiro momento, pode parecer um certo nível de masoquismo reviver mentalmente situações desagradáveis.

Sim, há dias em que as coisas não dão tão certo. Dias e situações em que gostaríamos de fugir ou, pelo menos, abreviar o sofrimento pelo qual estamos passando. Vou contar uma destas experiências fortes para mim como guia e, tenho certeza, ainda mais forte para minha cliente que viveu esta experiência.

Como de costume tenho o critério de tentar filtrar ao máximo e só levar para uma determinada trilha pessoas que estejam em condições físicas e psicológicas para enfrentar aquele nível de desafio. Gosto de repetir: O esforço não é opcional, mas o sofrimento, quase sempre, é. (O sofrimento é muitas vezes uma escolha)


"Eu havia ido ao miserável e enlameado local porque preferia a aventura e, tendo começado, deveria prosseguir." Joseph Campbell

Uma cliente pediu para participar de uma atividade que considero nível Intermediário tanto no critério de preparo físico quanto no critério de experiência técnica e para isso me reportou um belo currículo de atividades desafiadoras, também informou estar atualmente ativa, o que me levou a acreditar estar preparada física e psicologicamente. Mas no decorrer da atividade ela demonstrou bem mais dificuldade que o esperado e já na ida, onde existiam muito mais subidas, repetidamente perdia o fôlego de forma muito mais intensa que o normal. Veio o primeira surpresa oculta: Recentemente havia contraído covid-19 e havia perdido boa parte da sua capacidade respiratória. Se relatada previamente esta informação teria sido suficiente para que eu optasse por não liberar sua participação na trilha e talvez por isso a cliente a tenha conscientemente omitido. Mas ela já estava na trilha e com paciência sabia que conseguiria atingir o objetivo e assim a motivei e apoiei até conseguirmos. Gastamos 50% a mais do tempo previsto para alcançarmos o local, ela sofreu bastante mas estava emocionada pela conquista e eu satisfeito por tê-la convencido a superar o desafio. No trajeto de retorno, por ser descendente, o fôlego não seria mais um grande adversário, mas havia mais uma surpresa oculta. Percebi que ela também não conseguia se deslocar com a naturalidade esperada para o grau de experiência que ela já possuía e em algum momento ela confessou o que ela chamou de "seu pecado": Ela havia sofrido um acidente cerca de uma semana antes e ainda não havia se recuperado bem do mesmo e estava tendo muitas dores na região lombar. Diante disto eu fui testado, como em poucas ocasiões, para agir com paciência e empatia para garantir que ela terminasse a atividade em segurança. Também com 50% de tempo extra, alcançamos o fim da trilha e da atividade.

O que fica de tudo isto?


"É melhor que confiem em nós do que gostem de nós. Em última análise, a confiança e o respeito geralmente acabam produzindo o amor." Stephen R. Covey


Eu não cheguei a conversar com ela sobre o que aprendeu desta experiência intensa, mas tenho certeza que deve ter sido uma grande lição. Primeiro sobre a importância da sinceridade, pois omitindo informações importantíssimas colocou a si mesma em uma situação de risco e sofrimento muito maior que o esperado e colocou o grupo numa situação de estresse e desconforto também maior que o devido. Entretanto, tenho certeza, para além dos aspectos negativos a situação inesperada e difícil tornou-se um especial desafio e consequentemente uma oportunidade de crescimento. Ela constatou a sua capacidade de superação, pois mesmo com condições físicas comprometidas conseguiu realizar toda a atividade, triunfou sobre a adversidade e isso costuma ter um efeito positivo sobre a autoestima. O grupo teve a oportunidade de exercitar a paciência, o trabalho em equipe e a empatia, pois alguns se revezaram em alguns momentos na tarefa de apoio e cuidado com a pessoa em maior dificuldade. Eu como guia também tive a oportunidade de testar minha paciência e compaixão, pois é mais fácil ser paciente e compassivo com alguém que foi sincero com você, mas é mais difícil quando você se percebe de certa forma enganado. Considero ter passado no teste ao conseguir que ela terminasse a atividade em segurança e com sentimento de gratidão. Cumpri bem com meu papel.


"A aventura é, sempre em todos os lugares, uma passagem pelo véu que separa o conhecido do desconhecido; as forças que vigiam no limiar são perigosas e lidar com elas envolve riscos; e, no entanto, todos os que tenham competência e coragem verão o perigo desaparecer." Joseph Campbell


Ao fazer este relato percebo que a situação não trouxe um aprendizado muito bem definido e direto, talvez a situação tenha sido mais complexa do que vulgarmente poderíamos avaliar e os seus resultados também o sejam. A questão é que o meu trabalho, o serviço que eu presto e as oportunidades que surgem no seu decorrer são de maior complexidade do que eu consigo interpretar de forma puramente racional. Por estarmos em meio a natureza mais primitiva, quase sem estrutura externa e relativamente isolados precisamos usar nossas virtudes e habilidades já desenvolvidas e, com sorte, ainda podemos ser motivados a despertar e usar recursos esquecidos, capacidades inatas humanas adormecidas que dificilmente viriam à tona sem este conjunto de estímulos tão especiais.


Tanto quanto levar as pessoas para conhecerem a natureza primitiva lá fora, também criamos oportunidades para que as pessoas possam conhecer a sua natureza genuína dentro de si mesmas. E, mais que conhecer, possam despertar e incorporar estes talentos em suas vidas, tornando-as melhores seres humanos, seres humanos mais completos e capazes de melhorar a própria vida e melhorar o mundo ao seu redor.


Eleve-se na trilha!


"Somos filhos do Mistério. Fomos colocados aqui na Terra para operar como agentes do Infinito, trazer à existência o que ainda não existe, mas que, por nosso intermédio, existirá.

A respiração, os batimentos cardíacos, a evolução das células vêm de Deus e por Ele são sustentados a cada segundo, assim como a criação, a invenção, as frases da música, o fracasso e o golpe de gênio vêm da inteligência infinita que nos criou e criou o Universo em todas as suas dimensões, a partir do Nada, do campo do infinito potencial, do caos primordial e da Musa.

Aceitar esse fato, eliminar o egoísmo, deixar que o trabalho surja por nosso intermédio e devolvê-lo espontaneamente à sua fonte, isso, em minha opinião, é a verdadeira realidade." Steven Pressfield

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