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  • Foto do escritorAdnan Brentan

Coisa de gente estranha...


Fico um tanto aliviado/consolado quando encontro ecos, ainda que distantes, sobre a existência e importância dos "estranhos no ninho" que, embora sejam esquisitos em relação ao ordinário e aceitável padrão em voga, são ao mesmo tempo necessários, senão fundamentais, para manter algum nível de sanidade no coletivo doente.

Se há algo de heroico em ser "estranho" aos modismos e "teimar" em certas condutas "fora de moda", permito-me assumir este meu valor de ser singular e estranhamente "fora do tempo" assumindo minha parcela de responsabilidade de herói. Já há gente demais cuidando e militando sobre "ismos" da vez (temporais). Nossos meios de comunicação e nossas mídias já estão encharcados deles e é, literalmente, impossível acessar qualquer tela digital sem ser lembrado deles.


Mas este sentimento de estranheza nem sempre é agradável de se ter. Olhamos para o caos externo, vemos o sofrimento coletivo, ouvimos as demandas coletivas e não conseguimos entender e partilhar das mesmas certezas. Isto nos faz perder temporariamente o rumo, nos faz duvidar de nós mesmos, nos faz sentir "estranhos no ninho". Mas, graças a Deus, a própria Vida se encarrega de produzir acontecimentos que nos ajudam a escapar destes estados de entorpecimento ou ativismo reflexo.



"...assim os homens obtêm, sobretudo nas horas de ócio, as grandes ideias felizes e os conhecimentos que de outra forma lhes seriam inalcançáveis. Nesse estado de abertura silente da alma, o ser humano talvez receba até o dom de descobrir "qual é a força que mantém o mundo unido em seu íntimo." Josef Pieper - Ócio & Contemplação


Ocasionalmente, caio na armadilha, olho para o que estou realizando e questiono a validade do esforço empreendido, questiono também a relevância do resultado. Por um tempo, mais ou menos curto, sinto algo parecido com tédio e insuficiência. Como se fosse "mais um" repetindo um fazer compulsório e sem impacto. Mas, não demora muito, vem alguém me falar das experiências incríveis que pude proporcionar a ele. Ouço com carinho e alegria e resgato a satisfação de poder "fazer a diferença" na vida deste alguém.


Por isso estou registrando abaixo novamente e com mais cuidado tudo aquilo que o meu ofício pode proporcionar:


Minha "missão"/sacerdócio prioritariamente é incentivar e facilitar:

- O acesso das pessoas aos ambientes naturais pouco ou nada adulterados por nós seres humanos;

- Um tempo de qualidade e desconexão do mundo profano, ruidoso e excessivamente contaminado com nossas neuroses coletivas;

- A contemplação do belo, especialmente, na Natureza. Resgatar a vivência desta prática altamente espiritual;

- O amor e respeito pela Natureza próprio daquele que se reconhece filho e protegido dela, nossa mãe biológica;

- O reconhecimento deste nosso parentesco divino e legítimo que nos une com tudo: com a Natureza e seus filhos, com o mundo, com a nossa própria espécie, com Deus;


Secundariamente incentivar e facilitar:

- A vivência dos desafios físicos e psicológicos próprios da aventura em ambientes naturais;

- A descoberta e desenvolvimento das potências individuais, superando fragilidades, medos e inseguranças;

- A autoestima e autoconfiança que surgem naturalmente quando superamos desafios e crescemos em força e habilidade.

- Fomentar a convivência e cooperação pacífica e prazerosa entre aqueles que participam destas vivências na Natureza.



A lista pode parecer presunçosa, mas também aprendi a importância da intenção: Qualquer ação tem impacto sobre a realidade, mas uma ação interessada e consciente é mais eficaz em sua influência sobre esta mesma realidade.


"Aliás, seria estranho, em nossos tempos, exigir clareza das pessoas! Entretanto, há algo além de qualquer dúvida: o nosso herói é um homem estranho, diferente, até mesmo original. Todavia, a sua estranheza e originalidade, longe de garantirem o direito à atenção, são prejudiciais, sobretudo quando todo o mundo busca conduzir os indivíduos e descobrir algum sentido geral no absurdo coletivo. Quase sempre, original é o indivíduo que se situa à margem. Não é verdade? A quem discordar, afirmando: “não é verdade”, ou “nem sempre é verdade”, posso reafirmar o valor de meu herói. Pois não somente "nem sempre" original é o indivíduo que se situa à margem, mas, ao contrário, talvez seja precisamente ele que esteja presente no próprio coração de seu tempo, enquanto seus contemporâneos se distanciam dele, levados por correntes e modismos passageiros."

Dostoiévski - Os Irmãos Karamazov - Prefácio


"As organizações sociais vivem, por assim dizer, num estado de insônia crônica; jamais se afastam de si mesmas, jamais se abrem para novos caminhos de vida e conhecimento. São corrigidas, de tempos em tempos, apenas pelos indivíduos - que conseguem o benefício do sono e por isso podem reformar organizações sociais de maneira racional."

Aldous Huxley - A filosofia perene

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