Quando um participante de uma das aventuras que guio afirma estar com medo eu, sem hesitar, afirmo:
Que bom! Isto significa que você está vivo!
E completo dizendo: Só chegamos até aqui, enquanto humanidade, graças ao medo. Ele nos ajuda a sobreviver. Mas isto não é exatamente uma apologia ao medo, mas a simples constatação de sua utilidade prática.

O medo é basicamente um sinal de alerta que nos chama a atenção para os perigos imediatos e futuros. E por ser um alerta, muitas vezes, nos paralisa. Esta pausa deveria ser o momento da tomada de consciência da dificuldade, da adversidade que se apresenta. Após a tomada de consciência é necessário uma decisão e uma ação objetiva acorde com esta decisão. A pausa pode ser curta, quase instantânea (instintiva), ou mais longa e a sua duração vai depender principalmente de dois fatores:
- do tamanho, do nível de desafio que se apresenta;
- da capacidade individual, das habilidades e experiências, de lidar com este tipo de desafio.
O medo quando nos domina em excesso causa uma paralização indefinida a que podemos chamar de pânico. Neste caso ele deixa de ser uma ferramenta de sobrevivência e, ao invés disso, passa a ser também um agente nocivo que nos leva a sucumbir.
Tradicionalmente a ferramenta e virtude que nos ajuda a superar a hesitação e paralisação causada pelo medo é a coragem.
Mais importante do que atender ao alerta do medo é contrapô-lo com a coragem.
O medo é o sinal de alerta e a coragem é o canal que nos permite acessar nossos talentos, habilidades, qualidades, virtudes, técnicas que promoverão a superação de mais um novo (ou velho) desafio.
Coragem é confiança na vida, confiança em Deus, nos demais, mas, sobretudo, confiança em si mesmo. Coragem é sermos nós mesmos, de sermos inteiros. Coragem para criarmos as soluções dos problemas ainda que pareçam maiores do que nós. Mais do que um direito é um dever ser corajoso!

"Não terei medo. O medo mata a mente. O medo é a pequena morte que leva à aniquilação total. Enfrentarei meu medo. Permitirei que passe por cima e através de mim. E, quando tiver passado, voltarei o olho interior para ver seu rastro. Onde o medo não estiver mais, nada haverá. Somente eu restarei." Frank Herbert - Duna
Podemos cometer erros neste processo?
Sim! É inevitável, mas o maior erro é não fazer nada, é não tentar nada, é delegar, integralmente, as decisões e ações para o mundo, para o governo, para os demais.
A Vida respeita e apoia os corajosos.
E os covardes? Os covardes sempre dependerão da compaixão dos corajosos.
Dá para dizer muito mais coisa sobre isso, mas, por hoje, foi o que consegui espremer.
Eu estou com medo, mas tenho coragem para continuar!
Para finalizar um pouco de inspiração:
"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que *as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando*. Afinam ou desafinam.
Verdade maior.
*Viver é muito perigoso; e não é não*.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor."
A gente quer passar um rio a nado, e passa: mas vai dar na outra banda é um ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou.
Viver nem não é muito perigoso?
Dói sempre na gente, alguma vez, todo amor achável, que algum dia se desprezou... Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."
Guimarães Rosa - Grande Sertão Veredas
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