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Foto do escritorAdnan Brentan

Qual a melhor forma de superar obstáculos na trilha?

Atualizado: 20 de jul. de 2023

"O maior bem que fazemos aos outros não é lhes comunicar nossa riqueza, mas fazer que descubram a deles." Louis Lavelle


Não é sempre, mas com boa frequência, que no momento da abertura de uma atividade tenho alertado os participantes de que não sou o "tipo de guia" que protege ou cuida muito. Esta declaração isolada pode trazer algum pensamento do tipo: "Mas esta não é uma das funções do guia, cuidar dos participantes?"


Também é, mas considero que não é o mais importante. Por isso já na sequência declaro minha crença de que alguém que procura participar de uma trilha na natureza, com certo grau de aventura, consciente ou não disto, busca expor-se a riscos e a desafios físicos e psicológicos pois, saiba ela ou não, estes riscos e desafios além de entretê-la vão estimular ganhos físicos, ganhos psicológicos e até ganhos espirituais.


"Aquilo que insistimos em fazer torna-se fácil - não que a natureza da tarefa se modifique, mas nossa habilidade para realizá-la aumentou. Emerson


Por isso, acredito que uma das funções e habilidades de um guia é incentivar e estimular a autonomia dos participantes. Reforço neste momento da abertura, que o crescimento será muito mais real se a cada obstáculo a pessoa tente superá-lo por conta própria. Também afirmo que é evidente que se for algum obstáculo mais perigoso eu estarei lá para apoiar e garantir a transição sem danos para a pessoa. Mas é preciso que a pessoa, pelo menos, tente superar o desafio com a maior autonomia possível.


"Quando nos falta confiança, normalmente diante de terrenos pouco ou nada conhecidos, e de uma trajetória que não podemos ter certeza no que dará... a coragem nos serve para elevar o nosso patamar de confiança, uma tarefa a enfrentar em nosso (necessário) processo evolutivo." Joel Câmara


Aquele que termina uma trilha desafiadora não é o mesmo que a inicia. É o que sinceramente busco e espero de quem inicia uma trilha desafiadora comigo: Que ele cresça em habilidade, confiança e coragem.


"Exercitando a coragem e desenvolvendo a confiança chegaremos a autoestima. Se tenho confiança, eu me aprecio, e me aprecio porque dou conta de mim. E quando é que me aprecio mais? Quando subo de patamar em autoconfiança, e, para isso, preciso de coragem." Joel Câmara


Podemos aprofundar ainda mais, pois não considero só importante que a pessoa supere o obstáculo, mas que ela primeiro busque em si mesma a melhor forma de realizá-lo. "Pera aí... além de não me dar uma mãozinha também não vai me explicar como passar por essa enrascada?" Repito: "Primeiro busque em si mesma..."

Se eu perceber que a pessoa não tem, ainda, o instinto ou habilidade suficientes para superar o obstáculo em segurança, eu começarei a instruí-la sobre como fazê-lo. E mais: Não darei instruções para todas as manobras necessárias, mas só para o que considero essencial. Mesmo que ela não execute da exata maneira como sugeri ficarei feliz e satisfeito se ela ultrapassar o obstáculo em segurança. Dou a liberdade para que ela escolha e realize os movimentos como ela se sentir mais segura.

O resultado é que além de crescer em confiança ela crescerá em criatividade. Claro que se a manobra foi muito perigoso eu farei correções.


"A confiança é a forma mais elevada de motivação humana. Ela traz à tona o que há de melhor nos seres humanos." Stephen R. Covey


Portanto, é também um exercício de confiança mútua. Você confia que eu não te colocarei em uma situação que não conseguirá superar. Eu confio que você se esforçará para superar o obstáculo e se superar. E quando consegue superar sua confiança em mim cresce, mas, principalmente, a confiança em si mesmo também.


"Se a qualidade básica do heroísmo é a coragem autêntica, por que tão poucas pessoas são realmente corajosas? Por que é tão raro ver um ser humano que possa se sustentar nos próprios pés?" Ernest Becker


Considero que a resposta para a pergunta acima seja a de que as pessoas, especialmente em nossa atualidade, não são desafiadas o suficiente e se desafiadas o fazem utilizando um excesso de mecanismos de segurança que subtraem da experiência a maior parte dos estímulos necessários para um real crescimento.


"Acredito que a conexão mente-corpo constitui uma parte muito importante do processo de mudança. Quando você consegue sentir algo visceralmente no corpo e conectar essa experiência à sua maneira de agir na vida, a mensagem é muito forte." Michael Lee


Relatos de experiências reais sempre enriquecem uma ideia que defendemos, por isso vamos lá: Não faz muito tempo, numa das minhas atividades que considero nível "intermediário", uma cliente, que fazia trilha comigo pela primeira vez, demonstrou muita insegurança ao passar pela maioria dos obstáculos. Quis o destino que estivesse no grupo um querido amigo meu que tem uma forte tendência de cuidar dos demais e este cuidado às vezes beira a super proteção. Durante a subida ele a ajudou dando-lhe apoio físico (segurando pela mão) em quase todos os obstáculos do caminho. Ele estava sendo gentil e cuidadoso e isto é muito valoroso, mas não interrompe o ciclo de fragilidade e de dependência alheia, não gera crescimento bastante e autonomia.

Quem tem um pouco de experiência em trilhas acidentadas na natureza sabe que a descida de uma montanha apresenta bem mais riscos do que a subida. Há mais chance de escorregões e consequentes quedas. Mesmo assim, para quebrar o padrão de fragilidade, eu pedi que ele deixasse de cuidar dela e fosse para frente do grupo. A partir daquele momento seria eu o responsável por ajudá-la a descer. Fiz com que ela parasse diante de mim e olhando firmemente para os seus olhos pedi: "Eu preciso que você confie em mim sobre isso! Confie no seu corpo, pois ele sabe qual o melhor movimento para ultrapassar os obstá-los e preciso que você tente fazer isso sozinha! Se você falhar eu te darei o suporte necessário.

Qual foi o resultado? Retirei o apoio físico e ela continuou tendo dificuldade, mas passou a superar os obstáculos sozinha. Raros foram os momentos em que eu precisei intervir. Terminada a trilha eu novamente olhei ela no fundo dos olhos e perguntei: Você viu o que aconteceu? Percebeu que você foi capaz de descer a trilha praticamente sozinha?

Eu não sei se ela voltará a realizar trilhas comigo, pois mora em uma região relativamente distante da nossa, mas tenho a certeza de que causei alguma influência positiva na sua autoconfiança justamente não ajudando tanto.


Acreditem ou não já chegou ao meu ouvido em forma de crítica que: "Eu deixo as pessoas muito soltas na trilha..."

Refleti sobre isso e acabei tomando a crítica com um "elogio", pois considero a liberdade como um dos valores mais importantes e essenciais para os seres humanos poderem tomar contato consigo mesmos e descobrirem as suas potencialidades.


"Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fossemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições desnecessárias e de melhor qualidade." Nilton Bonder


Portanto continuarei deixando as pessoas "um pouco soltas" na trilha mostrando que a melhor forma de superarem os obstáculos é com seus próprios corpos, com suas próprias forças, com sua coragem, autonomia e criatividade.


Confesso: é uma das maiores satisfações pessoais perceber o quanto uma pessoa sob "meus cuidados" cresce em habilidade, autoconfiança e consequentemente em autoestima.


"Liderança é comunicar o potencial e o valor dos outros com tanta clareza que eles se sintam inspirados a vê-los em si mesmos." Steven R. Covey



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