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Foto do escritorAdnan Brentan

Como avançar na trilha quando não temos certeza se o caminho escolhido é o melhor caminho?

"Se a pessoa der ouvidos às sutis mas constantes sugestões do seu espírito, sem dúvida autênticas, não vê a que extremos, e até loucura, ele pode levá-la; contudo, por aí envereda o seu caminho à medida que cresce em resolução e fé. Nenhum homem jamais seguiu a sua índole a ponto de esta o extraviar. Embora o resultado fosse fraqueza física, ainda assim talvez ninguém pudesse dizer que as consequências eram lamentáveis, já que representariam a vida em conformidade com princípios mais elevados." Henry David Thoreau


"Desbravar" locais nada ou pouco explorados ou percorridos traz oportunidades únicas de explorar e por em uso, também, nossas competências e nossos dons. Dons que podem ser natos ou adquiridos através do tempo, formação e experiências. Eu gostaria de poder afirmar que eles nos levarão ao sucesso, mas, embora sejam uma vantagem inegável, não há garantias quando penetramos no desconhecido.


Como o território é pouco ou nada conhecido é comum e frequente depararmo-nos com situações limite, inclusive com barreiras aparentemente intransponíveis. Nestes momentos críticos pode surgir hesitação, pode surgir insegurança e medo de tomar um rumo que pode nos prejudicar e colocar toda a empreitada em risco. Mais do que o risco do tempo perdido e do sentimento de frustração há real risco da nossa própria segurança e integridade física e muitas vezes a segurança de quem nos acompanha na genuína aventura.


Diante de tamanhas dificuldades podemos, boa parte das vezes, optar por simplesmente desistir, abortar ou refazer parte do percurso. Abortar, para maioria das pessoas, é considerado o mais sensato, o mais seguro. Afinal quem quer conscientemente se expor a riscos reais? Riscos que às vezes podem causar males físicos e até colocar a própria vida em jogo. Mas este é um dilema inerente a condição humana e toda nossa história enquanto espécie é repleta destas situações onde podemos avançar e conquistar ou podemos desistir e retornar para nossa zona de segurança. Uma coisa é certa, quase que todas as grandes conquistas humanas foram alcançadas ultrapassando os limites seguros e conhecidos e todas elas custaram esforços imensos e sacrifícios dolorosos. Nossa própria história pessoal, no geral, é um testemunho destas escolhas, esforços e sacrifícios que fazemos, consciente ou inconscientemente.


Mas há situações mais complicadas onde abortar não é possível. Situações nas quais não há como retornar para zona de segurança (zona de conforto) e precisamos escolher entre dois caminhos difíceis e incertos a risco de, ao abrir mão de uma decisão, perder-se de vez. Nestes momentos "impossíveis" o único possível é valer-se de um tipo de "fé", de uma crença na vida ou em Deus ou no que preferir acreditar. Normalmente, mesmo correndo grande risco de errar, é preciso tomar a decisão mais alinhada com seus valores internos e arcar com as consequências quaisquer que sejam. Você sabe que não haverá caminho ideal, você sabe que haverá dor, mas você precisa correr o risco de ferir-se e perder-se para não perder a si mesmo.


Nestes 13 meses de pandemia (e contando) temos percorrido um território desconhecido e passado por várias situações limite, temos sido colocados à prova quase todos os dias, temos perdido, temos sofrido, temos feito sacrifícios, temos lutado ou fugido da luta. Temos algumas vezes optado por parar, algumas vezes temos optado por seguir adiante, temos feito escolhas erradas, temos mudado de ideia sobre estas escolhas. Temos escolhido culpar o vírus, temos escolhido culpar as pessoas, temos escolhido culpar o governo, até Deus, eu sei, temos culpado nos nossos momentos mais sombrios. Mas todos temos sido "expostos", mais do que ao vírus, expostos as decisões impossíveis, aos julgamentos externos e, principalmente, ao medo, não do vírus, não da crítica alheia, mas sobretudo expostos ao medo de errar, de causar mal e, sobretudo, de perder-se de si mesmo.


Eu tento conviver com estas decisões impossíveis e tento sobreviver à elas com dignidade, com esperança e fé na nossa capacidade de superar calamidades e evoluir com elas. Não é fácil, mas eu faço o impossível até que ele se torne possível.

Baseado nos meus valores eu opto por me expor aos riscos. É isso ou perder-me de mim mesmo. E quem perde a si mesmo perde tudo.


Pois é... Eu não disse como atravessar o território desconhecido, só quis mostrar de maneira um pouco intensa como eu me sinto em boa parte da jornada. Ainda vai demorar um tempo para divisarmos algum horizonte mais promissor e até lá eu seguirei com coragem (e medo). Quando ultrapassarmos este umbral, e vamos ultrapassar, quero poder olhar em volta e, independente das cicatrizes que eu carregar, poder encarar a todos com a certeza de que fiz o meu melhor. Honrar-me ao constatar que mesmo que não tenha sido o melhor caminho, que tenha sido o meu caminho.


"O Muro do Paraíso, que oculta Deus das vistas humanas, é descrito por Nicolau de Cusa como constituído pela "coincidência dos opostos", sendo seu portão guardado pelo "mais alto espírito da razão, que impede a passagem enquanto não for superado". Os pares de opostos (ser e não-ser, vida e morte, beleza e feiura, bem e mal, e todas as outras polaridades que ligam as faculdades à esperança e ao temor e que vinculam os órgãos de ação a tarefas de defesa e aquisição) são as rochas em colisão (Simplégades), que esmagam os viajantes, mas pelas quais os heróis sempre passam." Joseph Campbell


Todos e cada um temos passado por nossas batalhas, juntos e sozinhos temos trilhado nossos caminhos. Olhe ao redor e veja que, assim como você, todos estão lutando da melhor maneira que conhecem. Diminua seus julgamentos, concentre suas forças na sua jornada e ajude, sempre que possível, os que estão mais próximo de você. Aprenda a respeitar e até, às vezes, admirar os estilos de luta diferentes do seu. Pare para descansar quando estiver muito cansado, pois o desespero emerge com mais potência e frequência quando forçamos demais a marcha. Aproveite estes momentos de descanso para desfrutar da companhia dos que te acompanham mais de perto, pois o desespero também surge do sentimento de solidão (desamparo).


"Observa tão bem a humanidade que chega a ver-lhe a alma;

Contempla tão bem a criação que vê Deus.

Sonha, e sente-se grande;

Sonha mais ainda, e sente-se enternecido.

Do egoísmo do homem que sofre passa à compaixão do homem que medita." Victor Hugo

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