"Não é que Maria nunca mais será assolada por desafios que despertarão suas dúvidas. Mas ela terá uma lembrança nova, um novo autoconhecimento, uma sensação de eficiência e poder,..." Amy Cuddy - O poder da presença
Faz poucos dias, tive a oportunidade de "cutucar" uma cliente que me acompanhava em uma maravilhosa trilha. É recorrente neste tipo de atividade que realizo, as pessoas se depararem com seus limites de tolerância ao esforço físico e psicológico e com ela não foi diferente. Na primeira parte da trilha, com trechos predominantemente mais planos, ela já apresentava mais dificuldade quando precisava subir alguma ladeira mais inclinada. Precisava parar e tomar fôlego e isso é perfeitamente normal para quem não está habituado com trilhas acidentadas e ascendentes. Naquelas ladeiras ela já começava a apresentar uma certa expressão de contrariedade, mais ou menos surpresa por sentir tanto desconforto. Não só as ladeiras, mas o calor no dia aumentava de forma importante o desgaste.
Mas em algum momento, nesta trilha, ao invés de ladeiras menores, somos obrigados a enfrentar uma longa subida que pode durar de 30 a 45 minutos dependendo do ritmo do grupo. É claro que ela sofreu ainda mais e em alguns momentos, confessou depois, pensou que não daria conta e que o melhor seria desistir.
Eu guio neste tipo de trilhas faz quase quinze anos e conheço bem esta dinâmica de esforço/sofrimento/desânimo e, por isso mesmo, não considero tão importante assim estes episódios ao ponto de, muito raramente, concordar que a pessoa "desista". Sei que se fizermos mais pausas (quando há tempo disponível) a pessoa conseguirá chegar ao objetivo principal. Apesar do cansaço e esforço, alcançamos o local ideal dentro do tempo previsto e tivemos bastante tempo para curtir e desfrutar do lugar lindo, poderoso e revigorante.
Agora não me lembro exatamente se já foi perto do final da ascensão ou se foi no retorno quando ela fez comentários sobre quase desistir na ida, eu pedi licença e declarei algo que já havia refletido e escrito em uma ocasião anterior: "Cuidado para não transformar sua vitória numa derrota!"
E arrematei explicando o que queria dizer com isso: "Quando você foca no sofrimento e nas dificuldades pelas quais passou pode eclipsar a constatação de que você superou estas dificuldades, você venceu, você deu conta, você conquistou... A verdade é que você foi capaz de superar uma situação de grande dificuldade para você e isso é extraordinário."
Imediatamente ela concordou e afirmou ter gostado muito deste posicionamento. Ela se sentia poderosa.
Talvez os "sabedores" de plantão possam chamar isso de mudança de "mindset". Chamem do que quiserem, mas não percam a essência desta real e transformadora lição, que é o poder de reenquadrar sua impressão de derrota para aquilo que é em verdade, uma vitória.
Toda pessoa capaz de vivenciar esta capacidade de vencer dificuldades, é capaz de utilizar esta mesma força para superar dificuldades em outras áreas de sua vida. Este tipo de experiência irá ajudar a reforçar (ou descobrir) seus talentos e superar outras situações de desconforto e desafio. Não só nosso corpo precisa de treino, mas também nossa mente para manter a "boa forma".
"A cada autocutucão, o prazer gera mais prazer; o poder, mais poder; e a presença, mais presença." Amy Cuddy
Talvez possa não parecer uma relação tão direta mas este episódio me faz lembrar de um outro pensamento poderoso de Nilton Bonder no livro A Alma Imoral: "Surpreender-se é, na realidade, a maior prova de poder de um ser humano. Surpreender os outros é fazer uso de nossos truques já dominados; surpreender a si mesmo é ser um mago diante daquele que nos julgávamos ser." Nilton Bonder
Esta agradável "surpresa" de vencer algo difícil e inesperado para nós, faz com que gostemos mais de nós mesmos e, assim, confiemos mais em nós mesmos para enfrentar, quando surjam, novos desafios inesperados.
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