"Onde está teu coração, lá está o teu tesouro."
Aos pés de um imenso paredão de rocha com quase mil metros de altura, de olhos fechados, com as duas mãos e fronte tocando a Montanha, que é "sagrada". Eu cumpria com o ritual de pedir permissão a Ela para poder subir ao seu cume.
Naquele momento a frase transcrita acima, e que rondava minha mente em estado semiconsciente, explodiu como um raio e ganhou um sentido que antes não percebera.
Quem nos instruíra sobre este pedido de permissão era Carlos, nosso guia e um legítimo membro do povo Taurepang, povo indígena que a muitas gerações cultiva uma profunda ligação com a Montanha e seus seres mágicos. Veja só, também por "coincidência", entre vários guias da região, foi Carlos, talvez o mais místico deles, que fui incumbido de nos conduzir no Roraima. Ele é uma espécie de pajé entre os seus e, já no alto da Mãe das Águas (um dos nomes do Roraima), no início chuvoso de uma manhã, nos presenteou com sua sabedoria profunda, genuína e ancestral. Entre outras coisas se destacou a narrativa de como os membros de seu povo sempre subiram a montanha para CONTEMPLAR e pela contemplação terem VISÕES do futuro e se comunicar com os seres mágicos da Natureza. Naquela manhã, coincidentemente, 38 anos antes, num 13 de dezembro, Carlos Castro havia nascido.
Este é só uma amostra da história do que vivemos nestes dias fora do tempo comum lá no Coração do Mundo (mito ameríndio), mas vou tentar começar pelo início, tarefa difícil de realizar, pois, desde meu retorno de lá, minha mente fervilha de ideias conectadas com sentidos literais e outros simbólicos. Passado, presente e futuro se fundem num agora preenchido de eternidade.
Quis o destino (ou eu chamei por ele) que esta expedição acontecesse num pico evolutivo da minha existência. São 52 anos de vida escalando a mim mesmo para, quem sabe, no final da jornada, chegar ao cume de mim mesmo, para chegar ao meu "eu maior". Nestes 52 anos percorri muitas trilhas, desbravei lugares repletos de perigos e de belezas, subi a cumes, desci para alguns vales e pude enfrentar alguns abismos. Esta jornada de elevação se intensificou nos últimos 12 anos, mais ainda nos últimos 3 anos e atingiu uma maior aceleração nos últimos meses.
Quando comecei a organizar esta expedição, 11 meses antes, eu não imaginava que eu poderia viver algo como que uma "experiência mística". Na época eu só busquei atender a demanda insistente de alguns clientes para levá-los até o Monte Roraima. Por sincronicidade (coincidência), Sidney, proprietário de uma pequena empresa (Fui TrilaRR) que opera, com muita competência, por lá, viu uma entrevista minha em um podcast sobre outro destino e sentiu o impulso de entrar em contato oferecendo o Monte Roraima. Eu senti que era hora de aceitar o apelo da vida, já que o Roraima estava "me chamando".
Entre montar, organizar, promover e vender o roteiro, por mais de nove meses, simplesmente, não pensei em profundidade na experiência. Mesmo meu inconsciente tendo mandado um recado em forma de sonho dois meses depois de começar a divulgar a expedição. Porém, pouco mais de um mês antes de iniciá-la, eu vibrava mais por dentro e, só então, me dei conta da incrível oportunidade. Comecei a nutrir internamente uma firme intenção de aproveitar esta oportunidade para dar um salto transformador em minha vida. Eu tive a visão de que poderia ser um marco extraordinário de crescimento pessoal, e assim está sendo.
Nunca vou esquecer o pensamento que me foi presenteado ao me conectar com a montanha. Na verdade, desde então, ele se tornou uma espécie de mantra que volto a repetir várias vezes por dia: "Onde está teu coração, lá está o teu tesouro."
Como também nunca vou esquecer a fala de Carlos sobre subir a Montanha para contemplar e ter visões do futuro, pois foi uma sincronicidade incrível, já que cerca de 50 dias antes eu finalmente (desde 2018 era um projeto mais ou menos negligenciado) resolvera anunciar a primeira viagem/expedição com objetivo de formação e aperfeiçoamento humano. Na ocasião eu por alguns dias refleti muito até fazer surgir um nome emblemático e que representasse o espírito da experiência. Ela se chamaria "VISÃO EXPANDIDA". Com o objetivo de literalmente permitir ao participante ampliar sua visão de vida, e colocá-lo no caminho de superar o adestramento e programação coletiva. Como eu defini em meus valores pessoais, ser capaz de reconhecer a eternidade (aquilo que importa) mesmo nos acontecimentos corriqueiros (transitórios) e a partir deste reconhecimento direcionar sua energia e esforços para alcançar uma felicidade perene.
Que espetacular ouvir na boca de um suposto estranho (agora considero Carlos como um irmão reencontrado), que seu povo já usava esta poderosa ferramenta de elevação de forma tradicional. Era uma validação daquilo que eu resgatara de forma intuitiva em minhas trilhas na Natureza. Em maio de 2023 eu definira objetivamente entre os itens da minha missão pessoal e profissional: "Incentivar e facilitar a contemplação do belo, especialmente, na Natureza. Resgatar a vivência desta prática altamente espiritual."
Eu iniciei esta reflexão para falar da expedição ao Monte Roraima, mas percebo agora que esta experiência é um marco elevado na minha vida, é um ponto de decisão. Ou me contento com a lembrança maravilhosa do que foi a experiência, ou aceito o presente divino e a partir dela torno-me algo maior do que meu antigo eu.
Ao mostrar este início de artigo para minha esposa, ela (sempre mais esperta) afirmou que não parece um início de artigo, mas um início de um livro e assim vai ser. Como em algumas boas histórias, vou começar pelo agora e em seguida voltar para o início, para percorrer o caminho que me trouxe até esta fase de rara beleza e elevação.
Há outras lições muito valiosas que aprendi no Coração do Mundo, há mais experiências que poderia chamar de místicas que vivi por lá. No entanto, elas não foram acidentais, são o resultado de uma vida de eventos significativos concatenados que eu atraí/desenvolvi para mim. São o resultado de dezenas de livros, inúmeras conversas com pessoas incríveis, muitas reflexões, muitos desafios vencidos, muitas quedas, algumas visitas ao mundo das sombras, ascensões ao mundo da luz,...
Muito em breve as expedições em formato de "Visão Expandida" estarão estruturadas o suficiente para compartilhar um pouco disso tudo com quem quiser me acompanhar e me ajudar a continuar escrevendo esta história de elevação.
Sobre o Monte Roraima: Escreverei outro artigo para falar mais objetivamente da expedição, mas agora eu precisava colocar para fora tudo isso que está transbordando em mim. Como diz a letra de uma linda música que me foi apresentada também nos últimos dois meses:
"Eu sou maior do que era antes
Estou melhor do que era ontem
Eu sou filho do mistério e do silêncio
Somente o tempo vai me revelar quem sou".
(Maior - Dani Black)
A jornada continua.
"Eu não sei onde sua história vai te levar
Mas a busca por quem somos nunca encerra
...
Sei quem sou
Sou quem sou
E eu vou chegar além!" (Além - Moana 2)
Que lindo e envolvente seu texto, seguiremos juntos nesta trajetória, gosto de fazer parte da sua história