Já faz alguns meses, para ser exato desde o último 7 de setembro, que uma ideia que antes era, de certa forma, uma intuição agora se apresenta como uma realidade muito objetiva.
Voltava de uma trilha difícil, o circuíto do Marumbi, e um amigo/cliente me relatava as dificuldades que passara em uma expedição recente para os Andes, onde, além das dificuldades e perrengues costumeiros, tivera que conviver com o fato de não atingir os objetivos almejados, ou seja, ele teve que encarar e aceitar seu fracasso, sua derrota.
Naquela conversa, de forma quase instantânea e intuitiva, afirmei que a derrota não era o que ele desejava, mas era o que ele precisava. Comentei que há lições importantíssimas que só poderão ser aprendidas nestas condições. Se estamos evoluindo, e também se não estamos, não há como evitar que o destino nos proponha estes desafios dolorosos.
Dominar e "vencer" a dor só pode ser feito sentindo a dor. Não há teoria de bem estar ou otimismo que nos ensine a lidar, de verdade, com muitas das realidades humanas, talvez as mais importantes. Não importa o quanto tenhamos estudado ou refletido, embora ambos ajudem muito, só aprenderemos quando passarmos pela situação, quando enfrentarmos o problema. E uma das lições mais enriquecedoras, por contraditório que pareça, é a lição de fracassar. É ser derrotado e ter que aceitar a derrota, é assimilar o ensinamento com humildade e buscar, dentro de si mesmo, as forças necessárias para levantar e tentar uma vez mais, ou simplesmente tentar algo diferente.
Desta forma, no fim das contas, não existe derrota ou fracasso, o que existe é aprendizado e crescimento. Desta forma, a derrota é uma preciosa vitória. Não uma vitória sobre o mundo exterior, mas, sim, dentro de si mesmo. É conhecer-se, é reconhecer-se, é aceitar-se humano, falho, frágil e mesmo assim entender que "tudo bem", faz parte. Que não chegamos neste mundo perfeitos, mas que há em nós, programada, uma implacável necessidade de rumar em direção à perfeição. Entender que o que importa é o movimento em direção à ela, embora nunca a alcancemos.
A perfeição não foi feita para ser alcançada, ela é uma estrela guia que defini a direção. E quando o clima está fechado, o céu está nublado ou chuvoso e não podemos vê-la, inevitavelmente, sairemos da rota, tomaremos caminhos difíceis e tortuosos. Mas só neste "clima ruim" é que teremos a oportunidade de aprender a utilizar a nossa bússola interna, ela que, embora às vezes mal calibrada, aponta também para a estrela.
O resultado é que quando o clima melhorar, mesmo que tenhamos tomado caminhos errados, que tenhamos passado por abismos indesejados, se mantivemos a disposição para aprender, estaremos mais fortes, mais resistentes, mais habilidosos e mais preparados para seguir a rota sonhada.
E quando não aceitamos a derrota e ficamos remoendo os fracassos de forma amargurada?
Neste caso ficaremos presos, por nós mesmos, num limbo, nos arrastando no pântano da estagnação.
Há pessoas que, por não saberem lidar com a derrota, não querem mais seguir a estrela, afinal ela não é confiável, pois às vezes se esconde, "nos abandona" a nossa sorte. Se entregam a uma vida de lamentações, adoecem e vagam mancos e sem rumo, secretamente, fantasiando que alguém ou algo venha salvá-los desde pântano. Teorizo que até grandiosas figuras históricas não suportaram a prova do fracasso e por isso mesmo não cumpriram integralmente com seu destino, deixaram suas missões incompletas.
Bonito discurso, não é? Mas acontece que quando começamos a pensar muito em algo, magicamente o "algo" chega até nós. E quando comecei a pensar na "necessidade da derrota" algumas derrotas bastante difíceis começaram a acontecer comigo. Situações completamente indesejáveis. Mas, de certa forma, eu havia treinado internamente para elas e pude, mesmo sendo derrotado, sair fortalecido e vitorioso. Passar por estes fracassos e sair inteiro ampliaram a minha autoconfiança e minha capacidade para lidar com situações delicadas e difíceis.
Não eram as lições que eu queria, mas eram as que eu precisava.
E você, tem fugido das derrotas? Qual é o tamanho do medo de encará-las? Ou tem se fortalecido com elas?
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